Desde 2020, um dos principais assuntos da mídia, entre amigos, familiares e nas pesquisas de internet são os vírus, já que um deles tem sido o protagonista da pandemia que vivemos. Nesse período, observamos que sabemos pouco – ou quase nada! – sobre esses elementos tão particulares. Por isso, vamos esclarecer algumas informações e destacar fatos curiosos sobre os vírus.

O que são vírus?


Em 1898, Friedrich Loeffler e Paul Frosch encontraram evidências de que o que causava a febre aftosa nos gados era uma partícula infecciosa que, na sua maioria, é menor do que uma bactéria. Esse foi o primeiro indício da existência dos vírus – entidades genéticas que ficam em uma área indefinida de classificação entre seres vivos e não vivos.
Por definição, os vírus são estruturas relativamente simples, apesar de poderem trazer vários efeitos prejudiciais na nossa saúde e bem-estar. São constituídos por um material genético de DNA ou RNA, recobertos por uma capa proteica chamada de capsídeo e, algumas vezes, envolvidos por uma delicada membrana de lipídios, conhecida como envelope viral.

Os vírus são considerados parasitas obrigatórios, uma vez que não podem se multiplicar sem a ajuda de uma célula. Dependem totalmente de uma célula viva (como animais, plantas ou bactérias) para se reproduzirem e, quando um vírus encontra sua célula hospedeira ideal, ele pode inserir seu material genético, se multiplicar e se espalhar rapidamente.

Vacinas x Vírus


Algumas vacinas têm sido desenvolvidas a partir de um vírus, que funciona como um “meio de transporte”, carregando sua estrutura. Esse vírus é enfraquecido ou mesmo inativado, a depender do tipo de vacina, de forma que ele é incapaz de se multiplicar no organismo humano e causar alguma doença. Quando entra em contato com o nosso organismo, o vírus vacinal é percebido como um agente estranho e desencadeia a resposta do sistema imune, criando uma proteção contra a infecção.

10 fatos curiosos sobre os vírus


Para além de um entendimento básico, os vírus sempre podem surpreender, já que se desenvolvem e sofrem mutações de maneiras inesperadas. Por isso, listamos algumas curiosidades sobre esse elemento fascinante!

1 – “Vírus” vem da palavra em latim vīrus, que significa “veneno” ou “toxina”.
2- Os vírus são estruturas minúsculas, em média, de 10 a 100 vezes menores que as bactérias, salvo raras exceções. Isso dificulta sua visualização no microscópio óptico.
3 – Em geral, os vírus são classificados de acordo com a natureza e estrutura dos seus genomas, além de seus métodos de multiplicação, e não de acordo com as doenças que causam. Há vírus de DNA e vírus de RNA; cada tipo pode conter material genético de fita simples ou dupla.
4 – Os vírus podem se espalhar de várias formas: alguns se disseminam pelo ar, água e solo; outros são transmitidos de pessoa para pessoa, por meio de fluidos do corpo, como gotículas de saliva que saem pela boca quando falamos, espirramos e tossimos; alguns vírus passam por contato íntimo (como no beijo ou durante contato sexual etc.). Também podem ser transmitidos por meio de insetos, como vemos acontecer com o vírus da Dengue, Zika e Chikungunya.
5 – Vários fatores podem influenciar a velocidade com que os vírus se disseminam. Alguns estudos apontam que o vírus Influenza (causador da gripe), por exemplo, parece sobreviver por mais tempo em ambientes frios e secos, o que pode justificar sua propagação comum no inverno. Já nas regiões tropicais, a elevada umidade parece ajudar os vírus a serem passados de pessoa para pessoa.
6 – Muitos vírus podem ser inativados ou destruídos pelo calor acima de 100°C ou por produtos químicos como álcool 70%, desinfetantes contendo íons metálicos e surfactantes. Não por acaso, durante a pandemia, a higienização com substâncias adequadas, como o álcool 70%, foi uma das principais recomendações.

7 – Os vírus podem causar infecções latentes, ou seja, infectam e permanecem na célula hospedeira, mas ficam “escondidos”, não se replicam e nem causam manifestações da doença. E como não apresentam sintomas, os vírus podem permanecer por meses, e até anos, no nosso corpo. É o caso dos herpesvírus e HIV. Dessa forma, a pessoa contaminada pode transmitir esses vírus para outros indivíduos sem nem saber que estava infectada. Eventualmente, esses vírus podem ser estimulados, gerando a produção de mais vírus, e possibilitando a infecção de novas células, com surgimento da doença.
8 – Nem todos os vírus são “do mal”. Várias proteínas virais podem estimular o sistema imunológico a produzir anticorpos e células que podem reagir com outras proteínas de vírus, protozoários e bactérias patogênicas. No caso das gestantes, por exemplo, a produção de anticorpos pelo sistema imune materno pode favorecer o bebê, protegendo-o de infecções.
9 – O primeiro coronavírus foi descoberto por uma mulher! A escocesa June Almeida era filha de um motorista de ônibus, cresceu em um bairro pobre e deixou a escola aos 16 anos para trabalhar como técnica de laboratório recebendo o equivalente a, aproximadamente, 5 libras por mês. Foi graças a essa mudança que June virou uma virologista renomada internacionalmente, especialista em microscopia eletrônica e pioneira na identificação de imagens e diagnósticos virais. Um de seus trabalhos mais notáveis foi a primeira visualização do vírus da rubéola. Foi ela também quem identificou o primeiro tipo de vírus com extremidades arredondadas, que apareciam como coroas no microscópio – o atualmente popular “coronavírus”.

10 – A Covid-19 recebeu este nome porque se originou a partir da junção de letras que se referem a (CO)rona (VI)rus (D)isease, o que, na tradução para o português, seria “doença do coronavírus”. Já o número 19 está associado ao ano em que os primeiros casos da infecção pelo novo coronavírus foram publicamente divulgados (2019). Lembrando que ele se comporta um pouco diferente dos outros coronavírus da sua família.
*Este texto contou com a participação de Andrea Vieira Colombo, Pós-doutora em Microbiologia Oral pelo Forsyth Institute e pela USP, Doutora em Microbiologia pela UFRJ e Professora Adjunta e Pesquisadora da Univasf.
Fontes: National Geographic | Fiocruz | Berkeley University | Instituto Butantan | US National Library of Medicine | National Institutes of Health | News Medical Life Science | Forterre P. Viruses in the 21st century: from the curiosity-driven discovery of giant viruses to new concepts and definition of life clinical infectious diseases. Clin Infect Dis. 2017;65(suppl_1):S74-S79.