A #BeepExplica um pouco o complexo e profundo universo da amamentação. Vamos abordar diversas questões desse ato tão particular entre mãe e filho, que, ao mesmo tempo, é de interesse de toda a sociedade e não faremos isso sozinhos: para esta matéria, entrevistamos a médica, mãe e influenciadora digital Dra. Ana Bárbara Jannuzzi.

Amamentação como base da vida
Quando um bebê chega ao mundo, a amamentação imediatamente se torna uma prioridade e uma preocupação. Segundo dados da UNICEF, amamentar o recém-nascido na sua primeira hora de vida traz inúmeros benefícios e ajuda a estabelecer o aleitamento materno em longo prazo. É uma estratégia natural de vínculo e nutrição para a criança, constituindo também uma intervenção econômica e eficaz para reduzir a morbimortalidade infantil.
Por isso, quando o nascimento acontece em boas condições para a mulher e a criança (via natural ou cesárea), a orientação mundial de instituições de saúde é que as mães coloquem o bebê no seio logo após o parto. E, assim, começa uma jornada de interação, vínculo, devoção, amor, proteção… e desafios.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o aleitamento materno exclusivo durante os primeiros seis meses de vida do bebê. Quando mantido em complemento a outros alimentos, ele é recomendado até os dois anos de idade (ou mais, de acordo com o desejo da mãe e da criança)*, já que o leite materno continua proporcionando vantagens nutricionais e imunológicas nessa faixa etária.
A nossa entrevistada, Dra. Ana Bárbara Jannuzzi, explica:
“O aleitamento materno não é só sobre nutrição: mamar acalma o bebê e é um momento único entre ele e a mãe. Além disso, o leite segue hidratando, nutrindo e protegendo o bebê, mesmo depois dos seis meses de amamentação exclusiva. E não precisa parar aos dois anos. Se ainda estiver bom para mãe e filho(a), pode continuar!”.
Leite materno: o líquido de ouro
Explicar fisiologicamente o leite materno é complexo, pois trata-se de uma substância biológica completa, que se modifica em diferentes momentos e circunstâncias. Portanto, vai além da soma de seus componentes nutricionais.
Esse líquido de ouro – daí o nome “Agosto Dourado”, o mês de incentivo à amamentação – contém não só macro e micronutrientes, mas também fatores de crescimento e substâncias de proteção que fortalecem o sistema imunológico da criança.
Por isso, o leite materno é a opção mais recomendada para crianças em formação. “A maioria das fórmulas disponíveis derivam do leite de vaca processado e tem alguns aditivos. A fórmula cumpre um excelente papel nas situações em que não é viável amamentar, mas ela não carrega anticorpos nem muda rapidamente sua composição, conforme a demanda do bebê”, esclarece a Dra. Jannuzzi.
Mesmo sabendo dos infinitos benefícios da amamentação, nem sempre é fácil, pois cada experiência é única e diferente para cada filho e para cada mulher.
Os desafios em amamentar
Alimentar um filho e mantê-lo crescendo e saudável são elementos que passam a habitar a mente dos pais a todo momento. No entanto, essa função ainda recai exclusivamente sobre a mulher-mãe-lactante, já que, por uma questão fisiológica, é ela a fonte primária de nutrição daquele pequeno indivíduo.
Muitas vezes, esse cenário de responsabilidade e pressão (seja social, seja interna), associado a questões físicas, biológicas e/ou psicológicas, faz com que algumas mulheres não consigam amamentar. Elas podem se sentir frustradas, culpadas, exaustas, tristes e desmotivadas. Como resultado, abandonam o aleitamento antes do tempo.
A Dra. Jannuzzi ressalta que é necessário estudar muito e se preparar para a amamentação. Além disso, é importante ficar em paz com sua criança, ter paciência e apoio – principalmente nos primeiros dias, enquanto o bebê ajusta a pega (maneira como ele encaixa a boca no seio materno), fator essencial para uma experiência positiva. A pega incorreta pode resultar em dores e em ferimentos no bico do seio da mãe, subnutrição dos bebês e desmame precoce.
“Nascemos com essa capacidade incrível, a de nutrir nossos filhos. Mas as pressões sociais são muitas e a mente precisa estar muito preparada. Para a mulher que não conseguir amamentar, é importante que ela saiba que o vínculo com seu bebê será criado da mesma forma, no ato de alimentá-lo. Que ela entenda que nenhuma mulher é mais ou menos mãe por conta da amamentação e que todas nós devemos nos unir para proteger esse momento.”
Completa a médica.
Amamentação x saúde materna
É preciso ter cuidado para não cairmos na romantização do aleitamento materno, visto, muitas vezes, como algo fácil e maravilhoso para todas as mulheres. Esse ato de amor incondicional exige muita dedicação do corpo e do tempo feminino, além de resultar em diversas privações. Por isso, é fundamental cuidar da saúde materna.
Algumas das dificuldades da amamentação incluem:
- Demora na descida do leite;
- Dificuldade inicial do bebê para sugar/fazer sucção efetiva;
- Mamilo plano ou invertido;
- Mamilos doloridos e/ou machucados;
- Bloqueio de ductos lactíferos (leite retido em alguns canais da mama);
- Menor produção do leite ou hiperlactação (excesso de leite);
- “Leite empedrado”;
- Mastite (inflamação da mama).
Geralmente, essas dificuldades são superadas com orientações e tratamentos adequados. Portanto, caso enfrente qualquer um desses cenários, procure ajuda médica imediatamente e, se necessário, faça uma consultoria de amamentação.

A biologia por trás da amamentação
O corpo feminino é biologicamente configurado para amamentar e o leite é produzido sob demanda do bebê.
“Quanto mais sucção, mais prolactina e mais leite. Um bebê que reduz a quantidade de mamadas tende a estimular menos esse hormônio materno, o que resulta na diminuição da produção de leite. Por isso a importância do alerta sobre uso de bicos artificiais, para evitar a sucção não nutritiva do bebê com chupetas, mamadeiras, entre outros, e diminuir, consequentemente, a produção de leite”, ressalta Dra. Jannuzzi.
Dá para amamentar após ter câncer de mama ou fazer um implante de silicone?
Segundo a médica, também é possível amamentar mesmo após o implante de silicone ou um câncer de mama: “Mas é importante conversar antes com o mastologista, pois algumas medicações usadas na quimioterapia podem impedir a amamentação por um tempo”. Ela explica que, se a mulher fez cirurgia de retirada de uma mama, há ainda a possibilidade de amamentar com a outra. “O que manda é a quantidade de glândulas mamárias que ficaram no seio após o processo”, completa.
Amamentação x retorno ao trabalho
Mesmo quando a amamentação está indo muito bem, um dos principais empecilhos que uma mulher enfrenta para seguir com o aleitamento é o retorno às atividades profissionais fora de casa. A fim de ajudar as mães a se prepararem para esse período desafiador, nossa entrevistada dá algumas dicas:
“É importante começar o estoque de leite antes. As recomendações brasileiras falam em 15 dias de duração do leite materno congelado. Mas, em outros países, como nos Estados Unidos, por exemplo, recomenda-se manter o leite refrigerado de 6 meses a um ano. Lembre-se sempre de esterilizar os recipientes.”
De acordo com a Dra. Jannuzzi, o ideal é descongelar o leite em banho-maria. O bebê deve tomá-lo, de preferência, em um copinho ou colher dosadora, para diminuir a chance de confusão de bicos. Tente oferecer desse jeito e tenha paciência, até que ele se adapte.
Ela também orienta que o momento mais fácil para retirar o leite – seja manualmente, seja com bomba manual ou elétrica – é quando o bebê está mamando de um lado e você tira o leite da mama livre. É importante lembrar que essa ordenha é um processo que requer prática, então, não se cobre se sair pouca quantidade de leite. Isso não significa que a sua produção seja insuficiente para seu bebê.
Para dar conforto materno nessa situação, Dra. Jannuzzi complementa:
“O retorno ao trabalho é um momento muito difícil na vida da mulher. O coração fica apertado e temos medo do bebê nos esquecer. Mas isso não vai acontecer, te prometo”.
O melhor lado da amamentação
Por definição do dicionário, o ato de amamentar é: “criar ao peito; dar de mamar; aleitar, lactar”. Há outras formas de nutrir o bebê, mas o aleitamento materno é o mais recomendado, sendo prático e barato. Em artigo publicado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), os autores comentam que “a amamentação é a base da vida”, já que manter a criança em aleitamento materno por mais tempo tem diversas vantagens, tais como:
- Faz bem à saúde e ao desenvolvimento da criança, contribuindo para um melhor desenvolvimento cognitivo;
- Diminui a taxa de mortalidade infantil (nenhuma outra estratégia isolada alcança o impacto que a amamentação tem na redução das mortes de crianças menores de 5 anos);
- Previne o risco de infecções, diarreias e obesidade;
- Diminui o risco de alergias, hipertensão, colesterol alto, obesidade e diabetes;
- Faz bem à saúde da mulher;
- Reduz o risco de hemorragia pós-parto (a liberação de ocitocina durante a amamentação ajuda o útero a voltar ao seu tamanho normal, diminuindo a perda de sangue);
- Diminui o risco de câncer de mama, nos ovários e no endométrio;
- Reduz o risco de desenvolver diabetes do tipo 2;
- Promove vínculo afetivo, já que o bebê fica muito próximo à mãe e tem muita troca nesse processo;
- É econômico, afinal, o leite é produzido pelo corpo, então, é de graça;
- Faz bem à sociedade;
- Faz bem ao planeta, porque o leite materno é natural, não envolve nenhum tipo de produção industrial ou dano ambiental.

Garantir a amamentação em longo prazo é uma missão de todos
A missão não é fácil, mas também não deve ser impossível. Em primeiro lugar, as mulheres precisam receber informação de qualidade e o incentivo de que elas conseguem amamentar (salvo raras exceções).
“O que tem acontecido é que, assim que o bebê nasce, a mãe é bombardeada de comentários negativos: que ela tem pouco leite, que o bebê está chorando de fome, que ninguém na família amamentou e ela também não vai conseguir etc. E aí, pouco a pouco, entramos com fórmulas em situações não necessárias”, explica a Dra. Jannuzzi.
Em segundo lugar, é imprescindível que a sociedade assuma o seu papel de responsabilidade cooperativa nesse processo tão importante para o desenvolvimento humano. Portanto, é necessário ter uma rede de apoio presente e firme, participação paterna ativa e muita informação para que o aleitamento materno funcione em longo prazo.
Sobre isso, Dra. Jannuzzi ressalta:
“Mulheres eventualmente são julgadas por amamentarem na rua ou de forma prolongada. Os ambientes de trabalho também não estão preparados para uma mulher que amamenta, que precisa de intervalos, ordenhar e estocar leite. São muitas variáveis que jogam contra a amamentação”.
Em 2019, foi divulgado um projeto de lei para garantir às mulheres o direito de amamentar em locais públicos, privados ou de uso coletivo, sem serem constrangidas. Afinal, o bebê mama em determinados horários por necessidade biológica, psicológica, afetiva ou emocional, portanto, isso deve ser respeitado.
Palavra de especialista (e mãe!)
Ao pedir para a Dra. Jannuzzi definir o ato de amamentar, ela é categórica:
“Encontro. Encontramos não só o bebê e suas necessidades, mas também nossas próprias crenças e mitos, e temos que lidar com eles. Também encontramos dificuldades no caminho e é necessário ter muita paciência para driblá-las. É um encontro com nossa capacidade de nutrir, com a potência do nosso corpo… É um encontro.”
Como conseguir amamentar a pessoa em casos de morte da mãe e outras situações
Em casos de falecimento da mãe durante o parto, bebês de barriga solidária, adoção, entre outros casos, o aleitamento ainda é possível graças aos bancos globais de leite humano. Aqui no Brasil, temos a Rede Brasileira de Banco de Leite Humano, considerada a maior e mais complexa do mundo pela OMS.
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