A chegada da pandemia colocou muitas famílias em confinamento – cenário nunca antes vivido pelos brasileiros e pelo mundo, em geral. Além do medo de encarar uma doença que ainda não conhecemos, o isolamento social desperta outros receios na sociedade como um todo: como fica nosso lado emocional durante e pós-Covid-19? Conversamos com a psicóloga Patrícia Pires. Profissional, casada e mãe de dois filhos, ela destacou alguns pontos relevantes para entendermos como podemos nos proteger emocionalmente neste período de quarentena com todas as emoções que este confinamento imposto provoca.

Confinamento e o impacto emocional

Segundo dados recentes da OMS, o Brasil tem 32 milhões de pessoas convivendo com doenças emocionais como depressão e ansiedade. Jogue nesse caldeirão a chegada de um novo vírus que pode levar a óbito. Além disso tudo, uma das principais prevenções é o isolamento social, mudando completamente a rotina das famílias. Confinamento: dicas da psicóloga Patrícia Pires

As famílias e o confinamento

E assim, de uma hora para outra, pessoas se encontram confinadas em espaços pequenos convivendo 24 horas por dia, 7 dias da semana. Some-se a isso a falta de previsão de quando tudo isso vai passar, ou seja, uma incerteza que gera angústia. Segundo a psicóloga, este cenário rouba as válvulas de escape que cada um tinha para amenizar momentos de angústia. Não bastasse isso, ainda há doses cavalares de medo, pitadas de incertezas, tédio e stress – tudo somado ao aumento das tarefas do lar, que mais do que nunca precisam ser dividas entre todos os confinados. A combinação de todos esses ingredientes aumentou drasticamente o número de conflitos familiares, incluindo a violência doméstica, divórcio, insônia, ansiedade e depressão.

Como evoluir em tempos de confinamento

Para Patrícia, após uma grande crise, surgem as grandes lições. Muitas vezes, o ser humano só consegue evoluir na dor. E, assim, ela nos deu algumas dicas para que as famílias que estão passando por esse momento difícil cheguem com mais saúde emocional do “lado de lá”, ou seja, quando nossas vidas voltarem ao novo normal (pois nada será como antes). Segundo ela, quem atravessar a linha de chegada mais resiliente, empático, forte e com a certeza de que as conexões humanas são uma necessidade básica, sairá mais evoluído dessa quarentena.

No confinamento, busque o apoio de um profissional

Patrícia explica que aceitar estar mal ou perdido durante esse período é um primeiro e importante passo para a saúde mental. Saber entender os sentimentos e nomeá-los é fundamental: medo, angústia, solidão, desespero? A pesquisadora social Brene Brown afirma que “as pessoas não devem passar por questões difíceis sozinhas”. Uma de suas pesquisas no tema diz que “as pessoas enfrentam os obstáculos da vida com menos estresse e ansiedade com um apoio adequado, de um profissional”. Por isso, a psicóloga destaca a importância de uma orientação profissional neste momento: “Não importa como é o perfil da sua família, vocês precisam ser um time nos próximos meses. Dialogue e aprenda a demonstrar suas insatisfações antes que elas se tornem insalubres à sua saúde”, enfatiza Patrícia.

Seja o que você pode ser, sem culpas ou cobranças

Essa dica da Patrícia é essencial para esse momento de confinamento, que recorremos muito às visitas no feed do Instagram de diferentes pessoas – universo no qual todos se mostram produtivos seja na malhação, na elaboração de receitas, decoração da casa, leituras, homeschooling dos filhos, enfim. Contudo, esse hábito se torna tóxico se estamos com o emocional abalado. O recado dela é: “seja a pessoa possível de ser neste momento! A mãe possível, o pai possível, o funcionário possível, o filho possível”. E completa: “Está tudo bem se você continuar acordado às 4 da manhã, esquecer de almoçar ou comer demais. Fazer um miojo para as crianças e não ter paciência para o homeschooling. Viva um dia de cada vez e faça o que estiver ao seu alcance”. Confinamento: dicas da psicóloga Patrícia Pires

Não se comparar com terceiros

Antes de mais nada, parar de se comparar com os outros é fator primordial. “Não são todos que têm o perfil de se exercitar por videochamada. Se você sempre quis tempo para ler e agora não consegue terminar uma página de livro, tudo bem! Sempre quis acompanhar a vida escolar de seu filho, mas agora perde a paciência tentando alfabetizá-lo, perdoe-se. Se no dia 7 da quarentena você conseguia trabalhar, arrumar a casa, cuidar dos filhos, dar atenção ao marido/esposa, se manter calmo(a), e agora, 50 dias depois, você só pensa em misturar a pizza que sobrou com o feijão, tá tudo bem! Nunca passamos por nada parecido antes, ninguém sabe como e quem vai sair melhor ou pior dessa. Mantenha-se saudável emocionalmente e já será um grande feito”, considera a psicóloga.

A arte de ignorar

Para manter o emocional saudável, nada melhor do que exercitar essa arte. Tudo o que te faz mal deve ser ignorado nesse confinamento. Se proteja de situações desagradáveis, viva a sua jornada. Ouça as suas necessidades e também da sua família. “Não vamos conseguir salvar o mundo, faça a sua parte e tire o peso da culpa dos ombros”, reforça Patrícia. Abraçar o ócio ou se envolver em um projeto é única e exclusivamente opção sua, portanto, não se prenda às cobranças da sociedade.

Mensagem final

“Não sabemos quando isso vai acabar, mas também sabemos que não é para sempre. Como psicóloga e especialista do comportamento humano, sugiro fortemente que crie estratégias para manter suas conexões afetivas. Se possível, evite ao máximo ser a gasolina no fogo da discórdia, pois já estamos todos muito inflamados. Se não estiver dando conta, busque ajuda profissional, psiquiatra e psicólogo. São essas pessoas especializadas que poderão te ajudar nesse momento – para isso, temos a telemedicina, e aí entra a visão do copo mais cheio dessa pandemia, a possibilidade de união e ajuda propiciada pela tecnologia. ____________________________ Gostou da nossa matéria? Quer saber mais? Acompanhe o perfil da Patrícia Pires. Ela, inclusive, está realizando Terapia On-line!