Conversamos com a psicóloga Paula Werneck para entender melhor o que é a Síndrome da Cabana e por que ela está afetando muitas pessoas neste período de retomada da rotina pós-isolamento social.
Síndrome da Cabana por Paula Werneck
Se você tem interesse no assunto, então prepare-se para uma leitura cheia de informações relevantes.

O que é a Síndrome da Cabana?


A Síndrome da Cabana está relacionada à experiência das pessoas ficarem períodos muito longos em isolamento social. O termo começou a ser utilizado no início do século XX, no norte dos Estados Unidos (cabin fever), quando trabalhadores/caçadores ficavam confinados em cabanas para aguardar o fim do inverno rigoroso. Posteriormente a esse período, sentiam dificuldade de retornar à civilização e às atividades de trabalho.
Atualmente, a Síndrome da Cabana vem sendo utilizada para explicar os sentimentos de angústia e medo diante da ideia de sair de casa, após o confinamento social decorrente da pandemia da COVID-19.

Como saber que estamos em crise?


Diante do atual cenário persistente de pandemia e a possibilidade real de uma contaminação, a síndrome é um fenômeno natural, uma reação a tantas mudanças e restrições. Ela não é considerada uma doença ou transtorno mental.
A síndrome se caracteriza por sintomas como alterações de humor, perda de memória e concentração, sensação de impotência, alteração da rotina do sono, ansiedade, inquietação. Mas é importante estar atento aos sinais de agravamento, pois eles podem desencadear sintomas severos como distúrbios alimentares ou um quadro depressivo.

Como superar a Síndrome da Cabana?


Há alguns recursos possíveis que ajudam na autorregulação, como:
  • estabelecer uma rotina (organizar os seus horários, criar hábitos de leitura, fazer exercícios físicos);
  • evitar notícias trágicas e alarmantes;
  • manter contato com sua rede de apoio (familiares e amigos);
  • observar e respeitar o próprio tempo: não se cobrar uma proatividade imediata, ir retomando aos poucos a rotina fora de casa.

E, principalmente, buscar ajuda profissional, caso os sintomas estejam prejudicando a  própria vida, paralisando as atividades e trazendo prejuízos diversos.

Existe algum tratamento preventivo?


Como psicóloga clínica e hospitalar, preciso reforçar a importância das psicoterapias. A psicoterapia é um tratamento que visa desenvolver o autoconhecimento, restabelecer um equilíbrio e maior controle das reações e emoções, e promover uma boa saúde mental. O trabalho psicoterapêutico faz com que o sujeito possa identificar suas emoções e ativar seus próprios recursos em diferentes situações de ameaça psíquica.
Fora os recursos de rotina, como atividade física, uma boa alimentação, contato com a luz do sol, que ajudam a manter a energia e são fatores importantes na prevenção de doenças.

Quais dicas você daria às pessoas que estão vivendo a síndrome e precisam ir retomando a rotina de sair para trabalhar etc?


Se observe e priorize situações e pessoas que lhe ajudem a se sentir mais seguro. Caso esteja se sentindo incapacitado, e o medo de sair de casa esteja fora do controle, busque, então, ajuda profissional.

Como diferenciar a síndrome de TEPT?


A Síndrome da Cabana em si não é uma doença, não é um diagnóstico. O transtorno do estresse pós-traumático (TEPT) é apresentado com critérios diagnósticos nas classificações internacionais – CID e DSM (Manual Diagnóstico dos Transtornos Mentais).
O TEPT caracteriza-se por um conjunto de sintomas físicos e psíquicos que se manifesta após a exposição a um evento traumático grave. São reações disfuncionais intensas e persistentes de revivência, angústia intensa, que têm início após um evento extremamente traumático, que ameaça a vida.
Toda vez que o estresse é lembrado, o sujeito volta a sentir o mesmo sofrimento e dor vivenciados anteriormente pelo agente estressor. A Síndrome da Cabana pode ser uma reação temporária, uma resposta adaptativa e sem danos à saúde. Portanto, esteja atento a essas diferenças e, na dúvida, converse com um profissional.

Existe ligação entre a Síndrome da Cabana e TEPT?


Algumas pessoas podem posteriormente reviver o estresse e medo causado pelas perdas – perda de alguém, perda de emprego e limitações da pandemia -, e isso interferir significativamente no curso da vida. Em situações assim, podem desenvolver outros quadros, como transtornos de ansiedade, transtornos alimentares, depressão e até mesmo a revivência traumática em um quadro de TEPT.

Palavras finais


Algumas pesquisas apontam que um grande número de pessoas sente insegurança em voltar à rotina, frequentar locais como academias, shoppings, restaurantes. É normal sentir algum receio e ansiedade ao pensar nesse retorno. Estamos lidando com algo muito novo e ainda testando as saídas e recursos para a saúde mental.
É importante cada um poder avaliar os riscos reais, respeitando o seu próprio tempo, manter o autocuidado e, principalmente, não estar em um isolamento emocional. Se o isolamento físico ainda é necessário, que a rede de apoio, as pessoas queridas e a boa qualidade do afeto, estejam presentes (mesmo que online) para nos ajudar a retomar a vida fora de casa.